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quarta-feira, maio 16, 2012

Alimentação, aqui em casa foi assim


O Mamatraca está falando sobre comida essa semana, eu já queria mesmo escrever sobre o assunto, aproveitei a deixa.

Aqui em casa posso falar feliz sobre o assunto.

Depois de uma dificuldade inicial na amamentação do Levi porque eu não tinha nem um pingo de colostro, as coisas se normalizaram. Ele perdeu peso até o 10º dia, mas, depois disso, ao completar um mês tinha engordado 1,7kg. Dá prá ver que entramos nos eixos.

A amamentação com a Clara é igualmente tranquila. Em nenhum dos dois casos tive fissuras, dor ou qualquer coisa semelhante. O Levi foi sem tomar água até os seis meses e a Clara vai seguir assim no que depender de mim. Digo de mim, porque pelo Levi ela já estaria comendo pizza.

Muita gente me importunava pelo fato de eu amamentar exclusivamente. “Ele nunca vai aprender a comer direito”, “criança que mama no peito dá trabalho na introdução de sólidos”, “não usa mamadeira? Ele nunca vai aprender a beber água”.

Tudo besteira. Tudo crendice. Tudo furado.

Quando percebi que o Levi estava realmente interessado em nossa comida faltava uma semana, pouco mais, para completar seis meses. Comprei um copinho e ofereci o suco que ele tentava pegar do meu copo, no restaurante do hotel em que estávamos. Ele provou, sorriu, provou novamente. Acabou. Os dias foram seguindo assim. Ele se interessava, eu dava uma provinha. Usei o fim do último mês para atiçar a curiosidade dele a respeito daquilo que comíamos, sem negar nada. Queria feijão? Eu molhava o dedo e dava. Queria café? Idem. 

No dia em que fez seis meses, peguei uma pera, cortei ao meio, colherzinha em riste, comecei a comer a outra metade, ele quis, dei. Cara de esquisito. Cara de quero mais. Cara de gostei.

Pera mais dois dias. Dei abóbora cozida no vapor. Dois dias, qualquer outra coisa. Se fosse fruta, in natura; legume, cozido no vapor. Sem temperos, sem misturas. Passei a dar um pouquinho do que eu comia com a colher dele. Nunca triturei comida, peneirei, nada. Aqui nunca teve comida de criança e comida de adulto. Se caldo de legumes industrializado não servia para ele, não servia para nós todos. Se ainda não era hora de frutos do mar para ele, todo mundo parou de comer. Achei que assim ele teria prazer em poder desfrutar da mesa toda. Parecia maldade dizer “isso é seu, o resto não”. Tomava o cuidado de repetir o cardápio pelo menos mais uma vez seguida para observar alergias e afins. Não teve nada. Amou tudo.

Ah! Minto. De-tes-tou banana. Mas ele é meu filho, precisava me dar esse orgulho. Eu detesto até o cheiro da banana. Achei justo ele ter repulsa pelo menos um período. Ele chorava quando tentávamos, por isso desistimos. Na Romênia, já com nove meses, ele quis a que o pai estava comendo. Aprendeu a comer banana na Romênia. Tem lógica? Criança nem sempre tem lógica. 

Não comia tudo numa refeição, ok. Comia e queria mais, ok. 

Só tomava o cuidado de não deixar mamar antes das refeições, por razões óbvias. Queria ensinar, não boicotar. 

Nunca teve recompensa, negociação. Não quer comer, também não enche os picuás e pica a mula da mesa.
Foi gostoso, tranquilo, normal. Continuou mamando e só tivemos 10 dias de recesso alimentício ao chegar a Europa, o que é absolutamente compreensível. Ele ficou só mamando durante esses 10 dias, sem comer nada. Depois passou.

O que ele come? Tudo o que comemos. Quase nada industrializado. Come pão, mas faço em casa, come alguma coisa doce, mas é feita por mim, com ingredientes bons, se tiver açúcar, é demerara.
Come pizza. Refrigerante nem pensar. Temos um truque para ocasiões em que há somente refrigerante como opção (na casa dos outros). Enchemos um copo com água e pingamos o refrigerante, ao que ele apelidou de “água de coca”. 

Quase não consumimos sucos. Acho desnecessário, tenho uma opinião não muito ortodoxa e não gosto de dar suco às crianças pequenas. Acho que é melhor fruta in natura. Só prá pincelar, porque não vou dar todos os dados, quanta frutose tem um copo de suco de maçã? E uma unidade da fruta? Pegou o raciocínio?

Mas, o que nós comemos? Tudo. Arroz e feijão em média, uma vez por semana. O resto pode ser bifum, panquecas, comida romena, mexicana, americana, paulistana, paraibana. Não importa. Raramente comemos a mesma coisa dois dias seguidos. 

Come lanche? Come, se eu fizer o pão e o hambúrguer. 

E ele está por perto quando cozinho. Dia desses estávamos só as crianças e eu e não tinha a menor ideia do que fazer de almoço. Abri a geladeira, ele colou em mim: “tá procurando o que, mamãe?”, “não sei, filho, algo para comer, o que você acha?”. Ele olhou a gaveta de legumes e decidiu “mãe, faz essa beringela aqui, ó”. E fiz mesmo.

Ele já cozinha também, do alto de seus dois anos. Já fez brownie sozinho e ficou delicioso. Eu colocava os ingredientes na xícara e ele colocava na tigela e mexia. 

Isso quer dizer que vivemos no mundo perfeito da alimentação? De jeito nenhum. Quer dizer que vivemos no mundo normal da alimentação. Só isso.

Ele come muito bem e muito em quantidade também. É magrelinha, com uma energia de assustar. Mas tem dias que não quer nada. Tem dia que come, repete, elogia (“mãe, isso aqui tá delícia!”).

Nós pais temos muitas expectativas com os marcos dos filhos e comer é um marco também. Claro que fiquei tensa em alguns dias, quando ele comida pouco – eu considerava pouco – ou quando não comia de tudo o que estava à mesa. Fiquei chateada mesmo foi com os 10 dias sem comer nada vezes nada. Mas sempre lutamos aqui para não parecer ansiosos com isso. Acredito que foi fundamental. Demos liberdade para comer sozinho, se sujar, sentir a textura. 

Se faço café, deixo sentir o cheiro do pó. Chamo, mostro, explico. Se ele questiona sobre o vidrinho de vinagre, deixo provar também. 

Sobre as besteiras, já mencionei acima. Industrializados, uma vez na vida e outra na morte. Doces caseiros, com moderação. Não conhece bicoito recheado, mas não entra aqui em casa nem para os adultos. Conhece chocolate, 50% cacau ou mais. 

A Clara está com quatro meses e se interessa muito por nossa comida. Mês que vem vou começar a dar a chance das provinhas no dedo e aguardar. 

Ela vai ter ajuda, um irmão mais velho bom de garfo e de papo.


9 meses

1 ano
2 anos


2 comentários:

  1. Oi Carol!

    Vim visitar seu blog depois q vc me respondeu lá no blog da Ana Elisa. E achei fantástico! Esse post seu simplesmente "sintetizou" todo o meu "projeto de alimentação" qdo eu tiver um filho. Parabéns. Eu pretendo fazer o msm. Vamos ver se vou conseguir!

    Um beijo

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  2. Liv, obrigada. Vai conseguir, com certeza! Basta estar aberta, coisa que já demonstrou, né? Bjão!

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