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quarta-feira, maio 09, 2012

As mulheres da minha vida


Há quatro meses quero escrever isso.

Há quatro meses me tornei mãe de menina.

Desde que engravidei tinha aquela certeza interna de carregar uma menina. Inicialmente o ultrassonografista disse ser outro menino, mas alguma coisa dentro de mim me dizia para esperar e foi o que fiz. 

Veio a novela do nome – um dia escrevo direito sobre isso, acho – e aquela curiosidade gostosa de saber como seria o rostinho da minha bb. 

E no dia 05 de janeiro deste ano, três dias depois do aniversário de dois anos do irmão, a Clara chegou. 

Tão linda, tão esperta, com aqueles olhões arregalados para mim, tão calma, tão gostosa de segurar, de cheirar, com uma micro boquinha vermelha carmim, pela branquinha e cabelos ralos e escuros. Tão emocionante ouvir seu choro. Tão bom sentir seu rosto junto ao meu antes de sair da sala de parto. De repente aquela emoção do nascimento do primeiro filho estava de volta, agora em forma de menina.

Foi e tem sido igualmente assustador. Olhar para a minha filha é olhar para mim mesma de um jeito totalmente novo, diferente. É me enxergar refletida. É revisitar cada uma das mulheres da minha família.

Nos últimos anos inevitavelmente tenho reconhecido essas mulheres em mim. Vejo muito da minha avó materna, na mania de passar tudo pela água, na chatice com o marido ao volante, na rotina diária da casa. Vejo minha avó paterna, sovo meus pães com a mão dela virtualmente repousando sobre a minha, vejo meus movimentos parecidos com os dela, o gosto pela casa cheia, o desejo de muitos filhos (ela teve nove), o “dom da reclamação” sobre todas as coisas e a curiosidade sobre tudo. Vejo minha mãe, a cara de brava dando bronca nos filhos, a criatividade para inventar brinquedos e brincadeiras nos dias chuvosos. Vejo minhas tias, as risadas de algumas, a vontade de esganar de outras e assim percebo que sou uma tela feita de pinceladas diversas de aquarela, de cores diversas que produziram novas nuances ao entrar em contato com os reagentes contidos em mim mesma e que refletem agora uma imagem única, exclusiva, ainda que muito parecida com algumas ou todas elas, não caricata, autêntica.

E temo. Não que o resultado tenha sido ruim... falaria eu mal de mim ou delas?
Temo de um jeito não assombrado, mas ansioso pela nova tela que tenho em mãos: minha pequena e silenciosa Clara. Que reagentes tem ela em sua natureza? A tela parece branca, mas sei que não é apenas isso. Sei que logo suas cores surgirão, sutis inicialmente, mais fortes e seguras no futuro. E tudo o que desejo é ter a mão leve, o espírito aberto, os olhos criativos, o traço firme, mas não rude, para que ela reflita a mais bela obra já vista.

Desde o início da gravidez a música da Clara – antes de saber que era menina, veja bem – é “Father’s Eyes”, do Acapella Company. Ela sintetiza o que espero para minha pequena. 

Filha querida, se mais nada eu conseguir te deixar, que seja isso: “...she's got her father's eyes*...”.




 
* letra AQUI.

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