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terça-feira, agosto 26, 2008

Última Moeda

Aconteceu algo legal esses dias aqui na igreja. Mais precisamente, domingo, pela manhã.
Uma senhora me procurou, bem sem graça, com uma sacolinha vermelha fechada. Colocou na minha mão, sorriu e disse que soube que a igreja estava com poucos panos de prato na cozinha e que esse mês tinha "pegado em dinheiro", por isso queria fazer uma oferta especial. Ao abrir a sacola, vi os quatro panos de prato, novinhos, com estampas bonitas, a barra feita.
Fiquei muito emocionada.
Mas pano de prato nem é algo caro, por que me emocionar?
Porque essa senhora vive com menos de R$50,00 por mês para sua alimentação e quando ela diz que "pegou em dinheiro", ou é porque a filha mandou algo de SP (a filha não está em boa situação tb), ou é porque conseguiu um atestado médico para receber meio salário mínimo como "encostada" já que não consegue sua aposentadoria, ainda que tenha trabalhado todos os anos de sua vida, feito escrava. O patrão não a registrou, nunca pagou seus encargos tributários e morreu sem deixar nem um presente para essa mulher, que beirando os 70 anos, doente com diabetes e osteoporose não consegue resolver a questão de sua aposentadoria.
Lembrei daquela viúva da Bíblia, que deu sua última moeda.
Às vezes acho que essa senhora de nossa igreja age da mesma forma. E é tão sincera, tão humilde que não entrega nada na frente das pessoas e faz questão de falar comigo a sós quando tem algum dinheiro que quer ofertar.
Espero que da mesma forma, Deus olhe para ela, como Jesus olhou para aquela viúva e que se compadeça de sua situação, permitindo que ela consiga pelo menos a aposentadoria que garantirá pelo menos uma alimentação melhor para essa mulher.
Ela tem dado tudo o que tem, ainda que pareça pouco.
Qualquer um de nós pode comprar quatro panos, mas quase nenhum de nós pode ofertar sequer um.
Quero aprender com essa senhora a jamais segurar minha última moeda, colocando minha confiança somente em Deus e não no que estiver no meu bolso.

quinta-feira, agosto 21, 2008

Memórias tristes

Não sei bem a razão, talvez nem haja nada especial, mas hoje quis olhar uma foto do carro do meu tio.
Foi fácil achar na internet, nem precisei recorrer à família, o que até facilitou para mim. Queria olhar o carro novamente. Fiquei procurando marcas de sangue, mas não é muito fácil encontrar sangue num carro vermelho, muito menos numa foto ruim.
Tento imaginar às vezes como eles estavam dentro do carro, sobre o que falavam, se viriam mesmo para cá ou se ele tava só tentando me deixar feliz dizendo que se desse estenderia a viagem até minha casa.
Tem horas que dá uma saudade tão dolorida, uma vontade de ir embora tb, de encontrar com todos eles.
Outras horas - e essas são a grande maioria - tenho vontade de não parar mais para pensar nisso, de fazer algo útil da minha vida, de servir gente pobre e miserável até eu morrer para pelo menos, enquanto estiver aqui, sentir que vale à pena passar essa tristeza, que vale mesmo continuar a viver.
Ontem meu marido passou muito mal, achamos que ele tem asma, e hoje ele cogitou a idéia de irmos embora daqui se ele não melhorar, talvez para um lugar mais desenvolvido.
Mas a não ser que seja caso de risco de morte, não penso em ir para lugar melhor. Quero ir para lugar pior, encher minha vida e meu tempo com os outros, servindo aos outros em suas necessidades emocionais e espirituais e se puder, até físicas. Mas não quero nada melhor.
Melhor para que? Para ganhar bem (sou voluntária aqui)? Para sair mais? Para voltar à vidinha social de SP? Não dá mais para mim.
Não quero chegar aos 50 anos, 70, que seja, olhar par atrás e perceber que não deixei um rastro bom na vida dos outros, que gastei todos meus dias de força e juventude para mim mesma.
Um dia isso acaba. Seja com o fim do mundo - sim, acredito piamente nisso - seja com minha morte, a vida tem fim nesse plano. Depois daqui, posso ficar tranqüila, estarei bem para sempre, mas enquanto estiver nessa terra, não quero ser apenas mais uma pessoa, um número, mais um ser, mas quero ser alguém útil, alguém com quem as pessoas podem contar.
Isso me faz ter razão prá não querer morrer quando a tristeza me invade.
Isso me mantém sã.
Isso me faz sentir viva.

segunda-feira, agosto 11, 2008

Dia dos Pais

Foi ontem, tudo bem, mas ontem estava ocupada o dia inteiro
De manhã com as crianças da EBD, à tarde num almoço com um pastor amigo nosso e sua família, no fim da tarde, tive ensaio com o grupo de louvor e à noite o culto.

N EBD fizemos a festa de premiação dos alunos. Cada vez que eles terminam uma revista fazemos isso para poder estimular a cuidarem de suas revistas, decorar os versículos etc.

Então, ontem teve bolo, refrigerante, presente para os vencedores e segundos lugares e também uma atividade manual para entregarem aos pais.

Na hora de pintar as lembranças, fiquei dizendo às crianças que os pais ficariam felizes em receber o presente deles, que era pra capricharem, essas coisas, até que um aluno me surpreendeu:

- Meu pai é um merda! - ele gritou.

As outras crianças até fizeram silêncio. As professoras que me ajudavam também ficaram um pouco assustadas. Não dava prá dizer aquilo daquele jeito. tinha que conversar com ele. Perguntei a razão de estar tão chateado com o pai dele (o menino tem só 6 anos) e ele começou a explicar que o pai tinha casado com a mãe dele e depois estava se abraçando com outras mulheres.

Tive vontade de chorar. Tentei conversar com esse menino, a sós mais tarde, mas ele não queria entregar a lembrança ao pai. Disse para ele entregar à mãe, que ela ficaria feliz também. Mas ele não tava querendo conversa comigo, estava muito agitado.

Depois que todas as crianças foram embora, ele permaneceu porque a mola que o traz à igreja tinha umas coisas para fazer antes de ir embora.

E ele estava muito agitado, subindo no portão, nas cadeiras, nas mesas. Como eu já sabia a razão, nem falei mais nada; resolvi deixar o pobre do menino em paz uns minutos.

Meu marido percebeu que ele estava no portão e ficou com medo dele cair, então foi até lá conversar com ele, pedir para descer.

Foi incrível a reação do menino! Ele desceu, sentou num banco e ficou conversando com meu marido, como se fossem melhores amigos.

Depois subiu no colo dele e ficou como um bebezinho. Deu um beijo na bochecha dele e se ajeitou agarrando seu pescoço.

Aquele menino é uma graça! Muito inteligente, lê bem, com fluência, aprende as lições, mas é muito bravo, muito nervoso e ontem foi a primeira vez que o vi ficar tão bonzinho com alguém. Ele sente falta da figura do pai, de um homem que o abrace, que o beije. De um homem com quem ele possa conversar e isso ficou mais que claro quando se aproximou de meu marido daquela forma.

Sou feliz por ter tido um pai presente mesmo que nossa vida tenha sido toda meio maluca, que eu seja filha de pais separados, nunca poderei me queixar de que isso fez meu pai se tornar ausente em minha vida.

Espero, se chegar a ter um filho, que meu marido e eu possamos oferecer a segurança que uma criança precisa, o carinho, a disciplina e o amor que percebo que muitos pais e mães não têm conseguido suprir.

E fica aqui meu registro de que amo muito meu pai, que sinto saudades dele todos os dias e que me sinto privilegiada, numa multidão de pais ausentes, por ter o meu tão próximo.

quinta-feira, agosto 07, 2008

Coisas importantes

. Ficar em casa.
. Ficar com a família.
. Ficar sozinha.
. Ler.
. Ouvir música.
. Falar com amigos.
. Chorar com amigos.
. Abraçar amigos.
. Amigos!
. Computador.
. Descobrir que há vida sem computador.
. Exercitar-se.
. Dormir "até cansar".
. Casar.
. Não casar.
. Descobrir que enxerga melhor que pensava.
. Tocar um instrumento (ainda que mal).
. Falar menos...
. Saber libras.
. Saber inglês.
. Saber espanhol.
. Saber romeno (nem para todo mundo).
. Desenhar.
. Cozinhar.
. Aprender um novo instrumento (flauta irlandesa é a da vez).
. Ter animais.
. Trabalhar.
. Morgar.

Estar viva...

segunda-feira, agosto 04, 2008

Tudo Novo!!

Gosto muito de rotina.
Sou uma pessoa naturalmente desorganizada. Nasci com a capacidade de viver em harmonia com ambientes altamente caóticos. Talvez isso se deva à minha mãe, extremamente bagunceira, ou ao fato de termos sido 4 irmãos em casa (fora os que vieram depois da minha adolescência).
Meu pai diz que fui rato na outra encarnação. Como não acredito que reencarnamos, descarto essa hipótese, mas que ela explicaria muita coisa.. como explicaria!
Por isso, exatamente por ser assim, esquisitona mesmo, sem organização nenhuma, mas ainda assim amante da limpeza, de andar descalça e à vontade pela casa, tenho que ter rotina.
Pessoas como eu não podem viver sem rotina, sem normas claras para convívio em família, senão dominam a parada e já era para o resto dos agregados.
Mas, convenhamos, não tem nada mais chato que rotina. Tem?
Enjoa, pode causar mal de Alzheimer (não sou médica, mas leio coisas por aí), automatiza o corpo e a mente, provocar L.E.R. (NÃO SOU MÉDICA, mas leio coisas por aí) e além de tudo tira o prazer de atividades vitais.
O que fazer??
O que pessoas como eu, que precisam da rotina, podem fazer para se manter alinhadas e ainda assim ter prazer de viver?
Primeiro, tomar banho assim que acordam. Dormir sempre um pouco menos do que gostariam e uma vez por semana, simplesmente dormir quanto quiser, a hora que quiser. Comer bem, mas não comer à noite. Priorizar as refeições da manhã. Ter um gato. Ter uma flor que não precise de cuidados excessivos (ok... serve um cacto ou uma de plástico que a gente lava na torneira do tanque uma vez por mês para garantir que não tem nada "vivo" nela).
E pode também... tã tã!!
Mudar a rotina!!
Exatamente!! Criar uma nova rotina. Não é anarquizar, é fazer o mesmo de jeito diferente, é deixar de ligar o pc na mesma hora, deixar de levantar do mesmo lado da cama e talvez até de dormir do mesmo lado.
É escovar os dentes com a mãe esquerda (para canhotos, com a direita), aprender pelo menos uma música nova no violão a cada mês.
Fazer tudo o que deve ser feito, mas de um jeito um pouco diferente.
Tudo isso para dizer que mudei o blog porque não aguentava mais olhar para ele do mesmo jeito.
Coisa nova, no mesmo bat-endereço, com a mesma bat-regularidade de escrever (=nenhuma), mas com cara mudada.
Não sei se me fiz entender. E importa?
Nu cred.