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quarta-feira, outubro 17, 2012

Sorvete de que?


Levi, Clara e eu saímos para tomar sorvete depois do jantar. Não sou fã de comprar sorvete, em geral faço (menos açúcar, mais sabor, frutas frescas, chocolate de boa qualidade, leite de verdade), mas ele queria muito. Escolheu de morango, comprei o melhorzinho (marca famosinha, um que diz "leite e fruta"). No caminho de volta, perguntei se o sorvete estava bom. Ele pensou e disse que sim. 
Silêncio de um minuto:

- Mãe, o meu é de gordura.
- HÃ??
- Meu sorvete, mãe. É sorvete de gordura.

Até o Levi percebe que tem gordura hidrogenada nas porcarias industrializadas.
Depois de terminar ele gritou da sala:

- Mamãe!! Minha gordura acabou aqui.
 
Isso me fez pensar que:
 
. Preciso fazer sorvete ainda essa semana. 
. Vale muito ensinar criancinhas a comer de um jeito legal - isso prá não falar da felicidade em ver o tanto de salada que ele comeu no restaurante hoje - e investir em produtos de boa qualidade, mesmo que signifique gastar um pouco mais em ingredientes alternativos.
. Cultivar um bom paladar é ter um adulto mais saudável. Tô investindo agora prá ele colher mais tarde. A curto prazo o paladar dele só rejeita um trambolho, no futuro o fígado, artérias, coração, vão agradecer.
 
E por fim, eu amo cuidar desses meus filhos! É incrível o quanto eles enriquecem minha vida. Voltei prá casa dando gargalhadas e até agora sorrio ao lembrar do sorvete de gordura...
 

segunda-feira, outubro 15, 2012

Bolos e memórias

Comecei a fazer bolos quando tinha nove anos. Lembro claramente do primeiro, uma nega maluca que cresceu lindamente e daí explodiu no forno e virou um biscoitão no fundo da forma e do forno.

Era dia das mães. O primeiro depois da separação dos meus pais. Meus irmãos e eu, depois de alguns meses de batalha judicial, estávamos com minha mãe. Fui à cozinha, conferi os ingredientes baseada numa receita qualquer, talvez de alguma revista Cláudia. Fiz tudo direitinho. Menos o fermento que foi muito e foi batido com a massa, não incorporado lentamente.

O bolo era uma surpresa, se é que dá prá fazer bolo surpresa para uma mãe que estava no cômodo ao lado... Em todo caso, ela não sabia exatamente o que eu estava fazendo. Os meninos e eu ficamos lá, "de castigo" na cozinha até o biscoitão queimar assar. Rimos muito, muito mesmo. Acho que o Felipe ainda tinha o macaco preto horroroso dele, porque lembro da carinha dele sorrindo com o bicho em mãos.

Comemos as bordas queimadinhas, fizemos leite com chocolate para todo mundo. Foi engraçado, deixou a vida mais leve por uns instantes.

Fiz bolos e bolos tantas vezes e de tantas formas que acabei virando craque! Quando chegava alguém em casa, minha mãe pedia e eu fazia um bolo, era só dizer o sabor. Um detalhe engraçado é que eles sempre ficaram prontos rapidamente e sempre fofos. O primeiro desastre me deu umas lições que não esqueci mais.

O dia hoje foi difícil. Cheio de palavras que não deveriam ter sido ditas, de abraços que não foram dados, de risos calados. As crianças dormiram meia hora mais tarde que o usual e fiquei limpando a casa. Falta só terminar de colocar a louça na máquina e passar uma vassoura na cozinha, que foi bem limpa ontem. Ah! Tem umas roupas para dobrar na cama do quarto de visitas, mas é pouca coisa, pode esperar.

Num dia perdido assim, tenho vontade de trucidar umas pessoas e sair correndo e gritando fazer algo para comer. Estivesse no inverno de São Paulo, faria chocolate quente. Mas nesse calorão da terra dos meus filhos, no way. Lembrei de uma receita lida há poucos dias, de bolo de laranja para dias frustrantes, disse a autora. Ôpa, é hoje!

Repeti o processo daquele primeiro bolo. Fui à cozinha, conferi os ingredientes, anotei a receita, liguei o forno, separei tudo, misturei lentamente com um fouet para não "barulhar" a casa com batedeira (confesso, raramente uso batedeira, é quase um tique) e coloquei para assar. Os 50 minutos me deram tempo suficiente para lavar a sala, corredor, tirar o pó de tudo, me livrar das manchas de tinta branca (dei uma geral nas paredes hoje) e revisar o lavabo do corredor. Li umas mensagens, li dois textos bíblicos que alguém querido dos EUA me mandou, pensei na programação do resto da semana, refleti os erros cometidos nas horas que se passaram até aqui.

O bolo deu certo. Ficou delicioso, aliás. Mas quebrou ao ser desenformado. Nada terrível, um erro bobo, deveria ter esperado esfriar mais e deu prá "colar" com o chocolate ainda quente.

Os erros do primeiro bolo me ensinaram a agregar com cuidado, ponderar as quantidades. O bolo quebradinho de hoje me fez relembrar esses ensinos e acrescentou a estes que as coisas têm o tempo certo para virar. A pressa pode estragar e nem tudo pode ser colado com chocolate quente.

Tá anotado.

Receita aqui.

terça-feira, outubro 09, 2012

Salvos pelo bambolê

Algumas semanas atrás, voltávamos de uma praia linda, depois de um dia gostoso com amigos de SP que estavam por aqui, quando vi algo que me chamou a atenção numa loja dessas 1,99.

Bambolês. Eu era fascinada pelos ditos quando criança e estava à procura para que o Levi pudesse se divertir e fazer uns exercícios.

Comprei quatro, um de cada cor disponível, pensando em circuitos animados no corredor lateral da casa.

Semana passada deu uma chuvarada e o Levi ficou trancafiado. Pais de meninos enérgicos sabem que isso requer uma camisa de força muita criatividade e paciência, mas eu estava sem as duas e com muito serviço.
Para minha surpresa, comecei a ouvir risadas do Levi, gritinhos de alegria e um "toc-toc" no chão, de algo leve quicando. Fui verificar se não era a cabeça da Clara na ponta dos pés e encontrei o garotinho saltitando, montado sobre um bambolê aberto. Assim que me viu, ele se apressou a mostrar seu cavalo. Isso durou um tempão.

Minutos mais tarde ele chegou correndo na cozinha, com o bambolê virado, fazendo "chuá-chuá" e e contando como aquele barco era legal e que ele estava no mar da Galiléia pescando com Pedro.

Mais risadas, dessa vez a Clara ria junto e lá vem a explicação do irmão (bambolê com a abertura de lado): "mamãe, olha essa bocona de leão, ela tá comendo a gente!".

Pausa para o almoço, bambolê escostado na cozinha e um garotinho feliz inventando histórias de cavalos, mar e animais de bocona. Soneca. Silêncio. Quase três da tarde e a movimentação recomeçou dentro de casa enquanto a chuva persistia fora.


Já mais livre, sentei com os dois na sala e ficamos conversando e brincando com massinha até ouvir "cadê meu bambolê?". Volta o trequinho azul para as mãos do garoto inquieto.

Bambolê com abertura para cima: "Mãe, olha só, é um U."
Para o lado: "Mããããe!! É um C!"
Para o outro lado: "Manhê, tá vendo? Olha minha lua!"
Para baixo, apoiado no chão: "Mamãe, mamãe, tô numa barraca! Vem, Clara, se esconder da chuva!"

Um bambolê azul desmontado salvou o dia inteiro. Um bambolê e um menino criativo prá dedéu!


sábado, outubro 06, 2012

Livros para crianças

Uma blogueira começou a indicar alguns livros infantis em seu blog. Achei legal, alguns blogs de mães fazem isso e acaba sendo uma boa troca de informação. No entanto, antes de citar um dos livros, ela teceu um comentário das razões pelas quais os livros indicados foram escolhidos. Dentre elas estava "contém poucas palavras e muita ilustração" e havia uma explicação maior sobre esse ponto e a menção de que quando um livro não serve para sua filha ela diz "fulaninha, esse livro aqui não é para vc, tem muitas palavras". Não está transcrito exatamente, mas a ideia é essa.

Bom... não concordo - quem perguntou? - com isso. Olhe só, pense um pouco. Essa corrente de que um livro com poucas palavras é bom para a criança é uma via de mão dupla e não acho que deva ser aceita como teoria absoluta. Isso é baseado na atenção da criança? Na compreensão das palavras?

Acho que até um livro sem palavras pode ser excelente, mas um livro sem ilustrações também. E, ainda que uma mãe pense que o melhor é oferecer livros com figuras, dizer isso ao filho criancinha é criar um preconceito com as palavras, né não?

Como esse blog é praticamente um solilóquio, aproveito para pensar eu mesma comigo. O Levi sabe todas as letras e adora palavras. Ele tem acesso a quase todos os nossos livros, tem os dele no quarto, de fácil alcance, mas pode pegar os nossos. Lembro-me bem de um dia quando ele colocou um livro todo coloridinho na estante e pegou um dicionário para "ler". Fiquei observando e só. Mais tarde ele pediu um livro, fui buscar um dele e ele pediu o dicionário novamente, dizendo "mamãe, quero um de muitas letras". E passou um tempão virando as páginas, concentrado.

Acho importante a palavra em si ter graça para a criança desde pequena e acho também importante não haver uma supervalorização das figuras. Alguém pode argumentar dizendo que a criancinha (estamos falando dos que eram bbs até ontem, com 2-4 anos) não tem capacidade de concentração para frases longas. Mas o exercício da imaginação é parcialmente bloqueado se ela sempre vê as figuras do que lê. Além disso, a concentração vem do exercício da leitura e do exercício de ouvir um adulto lendo.

Meu filho é enérgico, do tipo de sobe em árvore, que pula, que corre e luta para não dormir. Mas ele pode ficar horas ouvindo uma boa história, mesmo sem figuras, mesmo no escuro do quarto. Faz poucos dias começamos a inventar uma história nossa. Depois da rotina jantar/banho/leite/dentes/xixi/história bíblica/oração, começamos a criar nossa história para os dias em que ele reluta mais para dormir. São três cavalos, ele escolheu seus nomes, e eles estão sempre em busca de aventura e vamos criando juntos os caminhos, as personagens, tudo. É tão gostoso! Levi tem dois anos e nove meses.


A melhor forma de ajudar, na minha opinião, a que tenham recursos para alimentar o pensamento é, além de ler, vivenciar. Que a minhoca da imaginação seja a vista no jardim, que o castelo seja o construído no tanque de areia ou na praia com a família, que a música seja variada, nunca viciada e assim por diante.

Não é uma tese de mestrado, é só um pensamento e uma experiência, mas vamos ensinar nossos pequenos a amar letras, não só livros com figuras; vamos ajudar para que eles ampliem a experiência da criatividade, da imaginação; vamos permitir que desenhem mentalmente suas próprias fadas, monstros, reinos, línguas e enredos.

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