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quinta-feira, agosto 21, 2008

Memórias tristes

Não sei bem a razão, talvez nem haja nada especial, mas hoje quis olhar uma foto do carro do meu tio.
Foi fácil achar na internet, nem precisei recorrer à família, o que até facilitou para mim. Queria olhar o carro novamente. Fiquei procurando marcas de sangue, mas não é muito fácil encontrar sangue num carro vermelho, muito menos numa foto ruim.
Tento imaginar às vezes como eles estavam dentro do carro, sobre o que falavam, se viriam mesmo para cá ou se ele tava só tentando me deixar feliz dizendo que se desse estenderia a viagem até minha casa.
Tem horas que dá uma saudade tão dolorida, uma vontade de ir embora tb, de encontrar com todos eles.
Outras horas - e essas são a grande maioria - tenho vontade de não parar mais para pensar nisso, de fazer algo útil da minha vida, de servir gente pobre e miserável até eu morrer para pelo menos, enquanto estiver aqui, sentir que vale à pena passar essa tristeza, que vale mesmo continuar a viver.
Ontem meu marido passou muito mal, achamos que ele tem asma, e hoje ele cogitou a idéia de irmos embora daqui se ele não melhorar, talvez para um lugar mais desenvolvido.
Mas a não ser que seja caso de risco de morte, não penso em ir para lugar melhor. Quero ir para lugar pior, encher minha vida e meu tempo com os outros, servindo aos outros em suas necessidades emocionais e espirituais e se puder, até físicas. Mas não quero nada melhor.
Melhor para que? Para ganhar bem (sou voluntária aqui)? Para sair mais? Para voltar à vidinha social de SP? Não dá mais para mim.
Não quero chegar aos 50 anos, 70, que seja, olhar par atrás e perceber que não deixei um rastro bom na vida dos outros, que gastei todos meus dias de força e juventude para mim mesma.
Um dia isso acaba. Seja com o fim do mundo - sim, acredito piamente nisso - seja com minha morte, a vida tem fim nesse plano. Depois daqui, posso ficar tranqüila, estarei bem para sempre, mas enquanto estiver nessa terra, não quero ser apenas mais uma pessoa, um número, mais um ser, mas quero ser alguém útil, alguém com quem as pessoas podem contar.
Isso me faz ter razão prá não querer morrer quando a tristeza me invade.
Isso me mantém sã.
Isso me faz sentir viva.