Criança desnutrida na África.
Se antes eu precisava desses lembretes, agora dependo deles.
Porque existe dor maior que a nossa. Sempre. Em algum lugar.
Não somos os mais sofridos desse mundo, os que enfrentam dificuldades. Essa dói em nós hoje, mas e a dor de todos e tantas dores diárias que ignoramos?
Choramos a morte de nossos queridos.
Mas alguns choram a necessidade de sobreviver.
Choro a saudade de alguém que se foi, mas posso pegar um avião e encontrar meus parentes vivos e dar-lhes um abraço.
Mas alguns choram o abandono perpétuo.
Quantas famílias choram todos os dias dores iguais à nossa, maiores que a nossa?
As vítimas da guerra. Do Iraque, do Afeganistão, de Israel. A repressão cubana. As tribos africanas. Os bebês assassinados nas nossas tribos, tirados de suas mães com os peitos fartos de leite.
Seria muito mesquinho me fechar em minha dor. Ela é grande, não a minimizo. Ela é forte, não a subestimo. Mas estou aqui, no conforto da minha casa. Durmo ao lado de meu marido. Escrevo num computador.
E sou livre. Saudável.
Acredito que um dos remédios agora seja olhar para a dor alheia.
Porque tem sim, sofrimento maior que o nosso.